Quando o dinheiro se torna senhor da vida, as consequências são funestas.
Um crime que chocou Caruaru nesta semana reacende um alerta antigo, mas sempre atual: o poder destrutivo do dinheiro quando ele ocupa o lugar que não lhe pertence. A morte de Allany Rayanne Santos, de apenas 24 anos, cuja mãe foi detida suspeita de mandar executar a própria filha para ficar com a herança que ela havia recebido do avô, é mais do que uma tragédia familiar. É um retrato cruel de algo que atravessa gerações — a maldição das heranças.
Segundo a investigação, o executor do crime era amante da mãe de Allany e confessou ter torturado a jovem para exigir a transferência do valor herdado. Como não conseguiu, tirou-lhe a vida com golpes de arma branca dentro da própria casa, espaço onde qualquer pessoa deveria sentir-se segura. O delegado Eric Costa relatou que a mãe se contradisse diversas vezes no interrogatório, reforçando a suspeita de que ela teria sido a mandante da morte.
A brutalidade do fato não surpreende apenas pela execução friamente calculada, mas pelo motivo: ganância. Um desejo tão profundo de obter algo que não lhe pertencia, a ponto de romper o laço mais básico da humanidade — o vínculo entre mãe e filha.
Não é de hoje que a Bíblia nos alerta: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1 Timóteo 6:10). Note-se: não é o dinheiro, mas o amor ao dinheiro. O apego, a idolatria, a crença de que ele vale mais do que vidas, relações ou princípios.
A história da humanidade está repleta de heranças que se tornaram sementes de tragédias. Famílias divididas, irmãos que se tornam inimigos, pais que manipulam, filhos que conspiram. Em diversos livros bíblicos, heranças também foram motivo de disputas, traições e rupturas. O coração humano, quando seduzido pela promessa do ganho fácil, costuma caminhar por trilhas perigosas.
O caso de Caruaru expõe aquilo que muitos preferem não admitir: o dinheiro revela quem somos. Ele amplifica intenções, desnuda ambições e, em pessoas emocionalmente e espiritualmente adoecidas, transforma-se em combustível para o mal.
Vivemos um tempo em que crimes por seguro, golpes envolvendo patrimônio e disputas judiciais violentas por bens são cada vez mais frequentes. A tecnologia facilitou transações, mas também abriu portas para novas formas de extorsão. A herança — que deveria ser símbolo de cuidado e continuidade — tem se transformado, para muitos, em armadilha moral.
A pergunta que permanece é: o que estamos dispostos a fazer por dinheiro?
E, ainda mais incômoda: o que estamos ensinando às próximas gerações sobre valor e dignidade?
Enquanto a polícia segue investigando o caso de Allany, a sociedade precisa encarar essa reflexão com coragem. Se a riqueza se sobrepõe à vida, se bens materiais valem mais do que relações, então não é a herança que está amaldiçoada — é o coração humano.
Que essa tragédia sirva como alerta. Que a memória da jovem não seja apenas estatística criminal, mas um chamado urgente para repensarmos nossa relação com aquilo que possuímos… ou achamos que possuímos. Porque, no fim das contas, a verdadeira maldição não está nos bens, mas no que o ser humano está disposto a perder para obtê-los.