Um misto de tristeza e gratidão envolve os momentos que antecedem a despedida de Waldomiro Wendler Filho
Uma das mais tradicionais famílias de Castanheira vive horas de luto e reverência. Aos 65 anos, após um período de sofrimento em decorrência de enfermidade, faleceu na tarde desta segunda feira, dia 29, Waldomiro Wendler Filho — o Mirão. Homem simples, de riso fácil e presença marcante, ele chegou à região com seus familiares no início da segunda metade da década de 1980, ajudando a construir histórias em Castanheira e Juína, quando o noroeste de Mato Grosso ainda era feito de sonhos, coragem e esperança.
Um misto de tristeza e gratidão envolve os momentos que antecedem a despedida final, marcada para as 14 horas desta terça-feira, 30, em ato religioso na Casa da Saudade. Tristeza pela ruptura de laços que se entrelaçaram ao longo de décadas; gratidão pela vida compartilhada, pelas risadas, pelas conversas e pelos gestos simples que fizeram de Mirão um homem lembrado com carinho. “Para ele não tinha tempo ruim; onde estava, era só alegria”, resume Edson da Balbina, amigo de muitos anos, traduzindo em poucas palavras o sentimento coletivo.
Recordar sua trajetória é revisitar cenas que não se apagam. Para o filho, também Waldomiro, o Mirim, morador do Sítio Pousada do Boiadeiro, no Assentamento São Sebastião, não haverá cavaleiro que passe sem evocar a imagem do pai — amante das cavalgadas e juiz respeitado nas provas de laço da região. A neta Giovana, residente em Juína, aprendeu com ele o gosto pelas lidas com o gado. Já Érika guarda na memória os passeios de carroça, à moda antiga, nos tempos da infância, quando a vida parecia mais lenta e o afeto mais largo.
À medida que familiares e amigos se reencontram, as lembranças se entrelaçam e confirmam uma certeza: Mirão permanece vivo naquilo que construiu. O sobrinho José Antônio Wendler lamenta a perda de um companheiro de viagens. O irmão Arnaldo Prestes Wendler relembra uma das últimas, há cerca de dois anos, quando juntos retornaram ao Paraná, terra de origem de onde partiram, na pequena Pitanga, para desbravar o noroeste mato-grossense.
Também é consenso que o Sítio Nossa Senhora de Fátima, no quilômetro 8 da Linha João Paulo, sentido Vale do Seringal, jamais será o mesmo. Ali, cada cerca, cada estrada de chão e cada sombra de árvore carrega a marca de décadas de trabalho, convivência e histórias, tendo Mirão como personagem central.
“A morte não apaga o que foi vivido; ela apenas transforma presença em saudade”, escreveu Rubem Alves. E como lembra o texto bíblico, “o justo é lembrado pelas bênçãos que deixou” (Provérbios 10.7). Waldomiro Wendler Filho deixa não apenas a dor da ausência, mas a força de uma vida que ensinou, pelo exemplo, a importância da alegria, da família e da amizade.
Além da esposa, Maria de Fátima, ele deixa três filhos, nove netos e um legado de memórias, valores e afeto que o tempo não será capaz de apagar.