Ela é leitora do Innovare News e nossa amiga de longa data. Permitiu que os nomes dos personagens do drama, narrado a seguir, fossem publicados. Por razões de segurança, contudo, e até para preservá-los, resolvemos não fazê-lo. Usamos um codinome para referir-se a ela: Emma. Na região onde ela se desenrolou, contudo, todos estão chocados. Até por isto, orientamos aos que são sabedores, a que se abstenham de ir além desta linha do sigilo.
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Conhecemos Emma, pastoreando uma Igreja, em outro Estado (Hoje estamos em Mato Grosso). Sua família morava às margens de um Igarapé. O estado era tão precário, que uma sucuri chegou a ser encontrada em seu espaço. Como frequentava a Igreja que começamos a pastorear, resolvemos nos mobilizar, como uma comunidade que prega o amor. Assim, ganhamos terreno, material de construção e mobília. Uma casa, totalmente montada, foi entregue. Motivados, eles cresceram. O homem da casa fortaleceu seu negócio. Ela, começou a trabalhar com vendas. Ao longo do tempo foi tão bem sucedida, que chegou a ganhar vários prêmios. Ninguém imaginava, contudo, que dentro daquele núcleo familiar, algo muito estarrecedor acontecia.
Dona Emma é mãe de três filhos, duas meninas e um menino, hoje crescidos. A época, as meninas eram muito pequenas. Só agora entendemos porque elas carregavam algo triste no olhar. A garotinha menor, era filha do casal. A maior, de um outro relacionamento de Emma. Como eram bastante participativos na vida de uma Congregação da Igreja – ele chegou a ser diácono – a leitura que se fazia era de uma família tranquila. A tal tristeza poderia ter relação com temperamento ou timidez. Essa era a análise mais corrente que se fazia.
Em meados de 2018, contudo, mais no final do ano, uma revelação deixou todos literalmente “sem chão”. Uma das filhas, já grande, a véspera de um casamento, não suportando guardar um segredo, abriu o coração para o seu futuro esposo: o pai a estuprava desde pequenina. E fazia o mesmo com sua irmã! “Meu Deus! Foi um choque!”, conta Emma, entre lágrimas. O mecanismo usado para que o mal não fosse denunciado infelizmente está no rito de vários casos semelhantes: “Se contar pra sua mãe, eu a mato”. Amando a mãe, mulher guerreira, temente a Deus, e preocupadas com suas próprias vidas, pois com o tempo as ameaças começaram a ganhar dimensões maiores, elas suportaram.
Num caso como este, é certo que muitas interrogações são levantadas. Uma, clássica, “como a mãe não percebeu?”. Emma, destaca que nunca imaginou que isto poderia estar acontecendo, dentro de sua casa. As ações aconteciam quando o menino estava para a Escola e ela, Emma, no trabalho. Só o comportamento do pai-padrasto cruel foi piorando nos últimos anos, a ponto de Emma ir aos poucos se afastando da Igreja. “Não tinha ânimo para acompanha-lo, diante da forma como ele me tratava”, observa. “Não consigo descrever a dor que eu, minhas filhas e meu filho estamos sentindo”.
Quanto a ele, ao perceber que o caso seria levado a Polícia, desapareceu. Entre as conjecturas feitas, está a de que poderia estar em algum garimpo da região noroeste de Mato Grosso.
Vivaldo S. Melo