Ramificação em Campo Novo do Parecis, de grupo visado pela Operação Fake Monster, propõe uma reflexão sobre um dos problemas mais antigos da humanidade.
A notícia da Operação Fake Monster, que desarticulou um grupo disseminador de ódio com ramificações inclusive em Campo Novo do Parecis – tão próximo de nós, aqui em Castanheira –, não deve ser lida apenas como mais um fato policial. Ela é um espelho perturbador de um mal que se alastra silenciosamente: a normalização do ódio como força motriz nas relações humanas.
É assustador pensar que, em pleno século XXI, redes criminosas se organizam não apenas para roubar ou enganar, mas para semear violência gratuita, automutilação e destruição, muitas vezes sob o disfarce de comunidades virtuais "inofensivas". Mais assustador ainda é perceber que esse ódio não está confinado a grandes centros urbanos distantes; ele se infiltra em nossas regiões, em nossas cidades, talvez até em nossos círculos sociais.
Mas o que alimenta esse ódio? Por que ele parece crescer, multiplicando-se em discursos extremistas, em ataques virtuais, em conspirações violentas? As raízes são muitas: a solidão digital, que transforma o ser humano em mero perfil a ser manipulado; a polarização política e social, que reduz o outro a um inimigo a ser aniquilado; a crise de sentido em um mundo que valoriza mais o espetáculo do que a empatia.
O caso do grupo que se passava por fãs de Lady Gaga para recrutar jovens é emblemático. Usaram justamente a linguagem do acolhimento – algo que deveria unir – para promover a barbárie. É a perversão do que nos torna humanos: a capacidade de criar laços foi distorcida para alimentar monstros reais, não os "Little Monsters" da música, mas os monstros do ódio sem razão.
E quando descobrimos que essa violência estava tão perto, a reação não pode ser apenas de surpresa. Precisa ser de reflexão. Quantas vezes normalizamos discursos de ódio no nosso dia a dia? Quantas vezes rimos de uma "brincadeira" cruel, compartilhamos um conteúdo agressivo ou ignoramos o sofrimento alheio porque não nos afeta diretamente?
O ódio não começa com um ataque a um show milionário. Começa nas pequenas rupturas da compaixão, na dessensibilização gradual que nos faz ver o outro como abstração, não como pessoa. Se queremos frear essa escalada, precisamos olhar para dentro – das nossas casas, das nossas conversas, das nossas redes – e perguntar: que mundo estamos ajudando a construir?
Afinal, os monstros de verdade não estão apenas nas deep webs ou nos grupos secretos. Eles se alimentam do nosso silêncio, da nossa indiferença. E, até que enfrentemos isso, continuarão habitando muito mais perto do que gostaríamos de admitir.