"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”
“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo debaixo do sol.” — Eclesiastes 1:9
As palavras de Salomão ecoam através dos séculos como um diagnóstico preciso da condição humana: não há nada de novo debaixo do sol. Mudam as eras, as tecnologias, as ideologias e os discursos, mas o coração do homem permanece o mesmo. Por detrás das fachadas de modernidade e progresso, repetem-se velhas práticas, velhas mentiras e as mesmas velhas ilusões.
Uma dessas repetições históricas é o fenômeno da manipulação das massas. Desde os primórdios, tanto no campo da política quanto no da religião, multidões têm sido conduzidas não pela busca da verdade, mas pela sedução do poder, da emoção e da conveniência. A manipulação é, talvez, uma das mais refinadas expressões da natureza decaída do homem, conforme a teologia cristã descreve o pecado: um coração “desesperadamente corrupto” (Jeremias 17:9), facilmente seduzido por aquilo que lhe promete vantagens, mesmo que ilusórias.
Quem se dispuser a investigar minimamente a história — tarefa cada vez mais rara numa era de superficialidade, imediatismo e verdades embaladas para consumo rápido — encontrará páginas e mais páginas manchadas de sangue, escritas em nome de causas supostamente nobres, mas que, com o tempo, revelaram-se meros disfarces para interesses inconfessáveis. Guerras, perseguições, revoluções e até movimentos religiosos foram, muitas vezes, edificados sobre construções ideológicas forjadas para enganar e subjugar.
O poder de persuasão de alguns homens tem sido tão grande quanto a preguiça mental da maioria. Nietzsche já alertava que “as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. A verdade, essa palavra tantas vezes distorcida, exige esforço: exige pesquisa, reflexão, confronto de ideias. Por isso, ao longo da história, aqueles que ousaram romper com as narrativas estabelecidas e buscar a verdade pagaram caro, pois foram vistos como inimigos do sistema, hereges ou subversivos.
No campo da fé cristã, a verdade encontra seu referencial absoluto na Palavra de Deus. No entanto, até mesmo essa âncora tem sido manipulada por corações corrompidos que, com interpretações absurdas e convenientes, constroem heresias que ganham corpo e força entre as multidões acríticas. Por falta de estudo, de discernimento e de temor, práticas e doutrinas que contrariam frontalmente as Escrituras se espalham como pragas, alimentadas pela vaidade e pela ganância.
Diante desse cenário, a busca pela verdade permanece um dos maiores desafios do nosso tempo. A pergunta de Pilatos ecoa: “Que é a verdade?” (João 18:38). Para o cristão, a resposta não mudou: Cristo é a Verdade (João 14:6). Mas confessar isso é pouco. É preciso defendê-lo, pregá-lo, vivê-lo — e isso implica coragem, estudo, renúncia.
A história também registra que nunca faltaram homens e mulheres que se levantaram contra as marés do engano, da corrupção e das manipulações. Foram eles que, em cada geração, mantiveram viva a chama da verdadeira justiça, da solidariedade, do respeito e da dignidade humana. São esses “remanescentes” que praticam o que se poderia chamar de “apologia permanente da verdade”, não como repetidores de dogmas, mas como guardiões dos princípios eternos que sustentam a vida e a fé.
Nos dias atuais, mais do que nunca, carecemos desses perfis. Na Igreja, onde distorções grotescas se multiplicam como ervas daninhas, muitos clamam por uma nova Reforma — não estética, mas profunda, que traga de volta o zelo pela sã doutrina. Na política, onde o extremismo e as polarizações rasgam o tecido social, urge a reconstrução de pontes e de valores. Na economia, na cultura, na educação, o mesmo anseio por verdade, justiça e equidade clama por homens íntegros e sábios.
Por fim, se é verdade que nada há de novo debaixo do sol, também é verdade que a sabedoria permanece como um dom precioso, ao alcance de quem a busca com humildade e temor. O próprio Salomão nos deixou esse conselho:
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” (Provérbios 1:7)
Que aqueles que ainda amam a verdade não se calem. E que, ao falar, o façam com a sobriedade, a paciência e a coragem que a verdadeira sabedoria exige.