Se houvesse uma pesquisa sobre o andarilho urbano mais conhecido de Castanheira, Antonio Cordeiro da Silva, 52 anos, popularmente conhecido como Traira, ganharia. Mas ele não está mais entre nós. Na manhã da última quarta, (11), foi encontrado morto, num dos banheiros do local onde há pouco tempo funcionava como Rodoviária, na Av. 04 de Julho, no centro da cidade.
Trabalhou em Fazendas, sendo sempre lembrado como bom funcionário. Residindo numa residência abandonada, conhecida como Casa do Moura, nas proximidades do Mercado Santos, vivia da solidariedade humana. No Restaurante Donna e algumas vezes no Fogão de Lenha, conseguia o alimento do dia a dia. “Você come melhor do que eu!”, disse, certa vez, um de seus amigos, segundo ele mesmo gostava de contar. Era freqüente no Espetinho do Créu, onde o proprietário costumava oferecer-lhe um bom churrasco. “Gostava muito!”, destaca Créu.
Em suas conversas, sempre em bom vocabulário, costumava citar versículos da Bíblia. Esse conhecimento, contudo, não o livrou da bebida, que gerou sérios transtornos para sua vida. Não poucas vezes era socorrido no Pronto Atendimento, como conta o guarda João da Encarnação dos Santos. “Costumava me chamar de irmão”, diz. Ultimamente já andava com dificuldades, amparado por uma bengala.
Acostumado a entregar-lhe o almoço, a empresária Shislaine Silva conta que sentiu sua falta desde o sábado. Foi quando instou alguns funcionários do Mercado Santos, de seu esposo Wanderlei Vicente dos Santos, a fazerem uma busca no local de suas paradas. Não o encontrando, fizeram contato com o Pronto Atendimento, sem resposta. Até que souberam de sua morte, por motivos ainda a serem averiguados pela Politec, de Juína.
Por ser desarraigado de vínculos familiares e por seu estilo de vida, seu enterro deve ser nas próximas horas ou dias, de forma solitária, como foram seus dias em Castanheira. Quem faz compras no Mercado de Wanderlei, contudo, deve sentir sua falta. Ali era um dos locais onde mais costumava ficar, geralmente interagindo com as pessoas. Uma ausência que talvez leve alguns a refletirem sobre o sentido da vida para as pessoas que vivem à margem de uma sociedade que nem sempre tem compaixão de pessoas como ele.
Para os que nunca souberam ou nunca perguntaram Traíra, como já informado, era Antonio Cordeiro da Luz. Nasceu em 13 de junho de 1967, no distrito de Vitorino, em Clevelândia, Paraná, tendo como pais Deroti Cordeiro da Luz, agricultor, e Josefina Mondardo Cordeiro da Luz.