O recente assassinato de uma jovem mulher, mãe, esposa, em Juína, no noroeste de Mato Grosso, pelo cunhado, e as razões indicadas por ele em depoimento à Polícia, registradas em Boletim de Ocorrência e disseminadas pelo público, mostra o lado perverso das facilidades criadas pelas redes sociais. Como a vítima não pode manifestar-se, por estar morta, toma-se os fatos como verdadeiros, e as pessoas criam seus próprios tribunais de julgamentos. Vira assunto do dia, da semana, do mês e até sabe-se lá quando...
No filme “A Cabana”, o personagem que representa a Justiça, ao abordar um pai ferido, numa terapia de cura, dimensiona a complexidade do ser humano e aponta para o fato lamentável de que todos nós tendemos a nos tornamos juízes diante de questões que nem sempre conhecemos a fundo. Em tempos de fakes News, situações criadas a partir do que mais de intrinsicamente mal o homem possui, por conta de sua natureza pecaminosa, podem resultar em injustiças irreparáveis. Depois que o mal é disseminado, sendo tomado como verdade, mesmo que descoberto como tal, não cura totalmente os estragos que deixou. Recentemente um reitor de Universidade, no sul do país, suicidou-se diante de vários cenários desabonadores que foram criados de sua vida. Investigações mais profundas, contudo, apontaram outros nortes. Mas, era tarde.
A Bíblia diz que os mortos não podem falar. É a leitura que o cristianismo faz. Neste caso, respeitando-se os que pensam de forma diferente, a vítima em questão, que teve a vida tirada de forma estúpida por um “possível amante”, o cunhado, que temia a revelação do caso, não pode se manifestar. Comenta-se que a verdade poderia ser outra. E neste sentido, ela seria vítima duas vezes. Uma relação sexual antes do ato fatal, indicada como consensual nos autos, não poderia ser, na verdade, resultado de um estupro? Os arranhões no réu confesso não seria uma prova disto? A possibilidade de uma denúncia de assédio não poderia ser a verdadeira razão? Muitos apontam nesta direção. Mas, para outros, a morta já foi julgada!
Os registros policiais, feitos a partir da confissão do autor, tomados como expressão da verdade por alguns, produziu um quadro de angústia, tristeza e dor para as partes envolvidas. Não que a autoridade em questão tenha culpa. É assim que funciona! Esse é o rito! Mas, não é possível que se crie mecanismos para que certas revelações só sejam feitas depois da análise de outros cenários? Até porque um ditado bíblico diz que “peca quem age precipitadamente”. Em termos práticos isto significa que peca quem escreve precipitadamente, quem julga precipitadamente, quem dissemina fatos e ideias precipitadamente, e assim por diante.
A grande lição é que precisamos tomar o máximo cuidado, pois o ser humano, quando acuado, pode ser mais perverso do que se possa imaginar. Nesses tempos que tantas delações premiadas no país, de homens de índoles questionáveis, e que até por isto mudam de tempo em tempo os fatos de acordo com os interesses envolvidos, são vistas como verdadeiras, até pela memória da jovem mãe em questão, silenciar-se é melhor do que fomentar discussões e julgamentos. E orar, orar e orar! E, em última instância, se o que foi tomado como motivação para o ato fatídico for verdadeiro, cabe-nos lembrar o velho Raul, que já dizia que “um erro não concerta o outro!”.