"Onde o futuro brotou entre carteiras de madeira: um pouco da saga pioneira da educação em Castanheira"
Nos primórdios de Castanheira, quando o barulho das serrarias ainda ecoava tão alto quanto os sonhos, um grupo de visionários já plantava as sementes do que viria a ser uma terra de oportunidades. Era a década de 1980, tempo de migrações corajosas, de emancipações históricas e, sobretudo, de uma aposta audaciosa: a de que a educação seria o alicerce de um novo amanhã.
Antes mesmo da criação oficial da Escola Maria Quitéria, em 1983, as primeiras aulas já aconteciam em espaços improvisados como um anexo da CODEMAT, onde o primeiro alfabetizador, Jorge Marcantônio, ministrou as primeiras aulas noturnas, no antigo MOBRAL, e outro da residência da professora Maria Odete. Professores como ela, Zenon (de Juína) Bete Castro, Lenira Castro e Zenira Licheski (esta última hoje saudosa) carregavam nas costas não apenas livros, mas a esperança de uma comunidade inteira.
Em salas multisseriadas, no momento inicial, e das primeiras séries individuais, onde até pais de alunos dividiam o mesmo espaço para somar, numericamente, ensinava-se muito mais que letras e números: ensinava-se a crer no futuro.
Na zona rural, o desafio era ainda maior. Imaginem professores pedalando quilômetros em estradas poeirentas, chegando a escolas rústicas, com carteiras de madeira também rústicas feitas pelo mesmo produto que movia a economia local. Eram tempos em que cada aula era um ato de resistência, cada formando, uma vitória coletiva. Rose Araújo, aquela menina da primeira turma da pré-escola em 1981, na casa da professora Maria Odete, tornou-se símbolo dessa trajetória — prova viva de que a educação transforma não apenas indivíduos, mas toda uma sociedade.
Como bem disse o educador Paulo Freire, "A educação não muda o mundo, educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo." Em Castanheira, essa verdade foi vivida na pele por aqueles pioneiros que, sem recursos, mas com imensa coragem, escreveram os primeiros capítulos de uma história que hoje causa orgulho.
As fotos amareladas da época, dos arquivos de Maria Odete, guardam cenas preciosas: a primeira festa junina da escola, crianças em apresentações no Dia do Índio, equipes gestoras percorrendo longas distâncias para supervisionar o ensino. Cada imagem é um testemunho do que se construiu com suor e determinação.
“Hoje, ao olharmos para trás, não vemos apenas um passado de dificuldades, mas um legado de perseverança”, revela um desses pioneiros. Castanheira cresceu, floresceu e cumpriu a promessa daqueles primeiros educadores: tornou-se, de fato, um lugar de oportunidades. E isso nos lembra que, por trás de toda grande comunidade, há sempre heróis anônimos — de giz nas mãos e fé no coração.
"1981: O ano em que Castanheira começou a escrever sua história — não com tinta, mas com sonhos."