Mais três castanheirenses deixaram o cotidiano de suas vivências nas últimas semanas. O texto é um registro, em homenagem às suas histórias.
Há um silêncio que dói mais que as palavras. Nas últimas semanas, Castanheira sentiu o peso desse vazio — três cadeiras vazias nas mesas de almoço, três histórias interrompidas, três nomes que agora são sussurrados com um misto de gratidão e saudade: Valcinei da Silva, Cleonice Arruda e Seo Damião. Partiram, mas como bem dizia o poeta, "a morte não é o oposto da vida, e sim seu último capítulo". E que capítulos escreveram!
Na Casa da Saudade, onde as despedidas se tornam rituais coletivos, o comum virou incomum outra vez. Em cidades pequenas, a morte não é apenas um evento; é um espelho. Reflete a vida que foi compartilhada, os gestos que ficaram, as pegadas na terra dos viventes. E Castanheira, com sua solidariedade que transcende até o luto, sabe transformar a dor em memória viva.
Valcinei, lembrado como "uma pessoa incrível" por quem teve o privilégio de conhecê-lo, deixou não só risos, mas a marca de quem iluminou caminhos alheios. Há quem diga que a morte leva o corpo, mas não apaga a luz que alguém acendeu. E a dele ainda brilha — nas lembranças dos amigos, nas histórias que não se calam.
Cleonice, mulher de fé e abrigo, teceu sua história nos encontros que iam além do culto: eram celebrações da vida. Na casa do "Seo Mingote", sua presença era sinônimo de acolhida, e hoje, os irmãos presbiterianos guardam não só sua imagem, mas o eco de seus cânticos e orações. Como dizia Guimarães Rosa, "as pessoas não morrem, ficam encantadas". E Cleonice? Encantou-se, mas sua voz ainda ressoa nas paredes da comunidade que ajudou a construir.
E Seo Damião, homem da Linha 02, onde a terra é dura, mas o caráter é mais forte. Sua vida foi feita de suor e semeadura — não apenas da lavoura, mas dos valores que plantou em sua família. Homens como ele são a espinha dorsal de Castanheira: anônimos heróis que, no silêncio do trabalho, sustentam o mundo. Partiu, mas sua luta permanece, como um verso do poema que é a vida no campo: "Morrer? Só quando a terra esquecer de germinar."
Sim, a dinâmica da vida é implacável. Nascemos, morremos, e a roda gira. Mas em cidades como a nossa, cada partida é um pedaço do cotidiano que se vai. O velório vira encontro, a tristeza vira história, e o luto vira celebração. Porque, como diz a canção, "cada um de nós compõe a sua história, e cada ser em si carrega o dom de ser capaz e de ser feliz".
Castanheira lamenta, mas também agradece. Por essas vidas que cruzaram seu chão, pelos sonhos que aqui floresceram, e pelo amor que, mesmo na despedida, se prova eterno. Que a terra lhes seja leve, e que a saudade — essa "dor que ainda ama", como definia Cora Coralina — seja suavizada pelas memórias que não morrem.
Até sempre, Valcinei, Cleonice e Seo Damião. Suas pegadas ficaram. E, enquanto houver quem conte suas histórias, vocês seguirão vivos — na mesa posta, no culto cantado, no trigal que balança ao vento.
#CastanheiraNuncaEsquece
(Texto escrito com reverência, para o Castanheira News, honrando a tradição de transformar luto em legado.)